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 Rádio Xadrez com Judit Polgár

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Leon Mendes

Leon Mendes


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Rio Grande do Sul

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27122011
MensagemRádio Xadrez com Judit Polgár

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"EM UMA NOITE GÉLIDA, no início dos anos oitenta, em Budapeste, capital da Hungria, um forte Mestre Internacional estudava um final de partida com sua aluna Susan. Apesar de promissores jogadores, nem a jovem nem o Mestre conseguiam encontrar a solução para o problema apresentado no tabuleiro de xadrez.

Ressabiada, depois de fracassadas tentativas, a aluna resolveu pedir ajuda à sua irmã mais nova, que dormia no quarto ao lado da sala de treinamento. Cambaleante, a jovemzinha saiu da cama segurando ainda seu urso de pelúcia, limpou os olhos para acostumar-se com a luz e equilibrou-se em pé na cadeira para poder enxergar a posição das peças.

Alguns instantes depois, ainda agarrada ao ursinho que trouxera da cama e nitidamente preguiçosa e com sono, a garotinha disse com uma voz fina, que quase sumia: “Por que vocês não movem o Bispo para cá, Susan?”. O lance era brilhante e resolvia de imediato o problema cujo qual os dois enxadristas gastaram horas tentando solucionar. Sem se dar conta da proeza que acabara de fazer, a garotinha virou-se para a irmã e apenas perguntou se podia voltar a dormir.

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A história acima ocorreu de fato na casa de Judit Polgár, a melhor jogadora de xadrez de todos os tempos. Mas, naquela época, Judit ainda não treinava com Susan e Sofia, suas irmãs mais velhas, por isso dormia enquanto elas praticavam. Por ser a mais nova das três, Judit havia sido separada das aulas por determinação de seu pai, Lásló Polgár, um proeminente pedagogo húngaro.


A “separação” só serviu, no entanto, para deixá-la ainda mais curiosa sobre aquele jogo, embora não naquela noite em que ela foi acordada.


Demorou pouco tempo até que todos na família Polgár percebessem que estavam diante de um gênio. “Os gênios não nascem, se fazem”, proclamava seu pai, após cunhar sua tese de que crianças poderiam fazer realizações excepcionais se fossem formadas em idade precoce, o que o levou a entrar em conflito com as autoridades escolares húngaras, que exigiam que as irmãs Polgár tivessem aulas no colégio convencional e não em casa com o pai.

A garotinha sempre foi amável e introspectiva, mas muito brincalhona. Certa vez, ao ouvir de um famoso chef de cozinha que visitara sua casa (a culinária era outra das paixões da família Polgár) que “você é boa no xadrez, Judit, mas eu sou um ótimo cozinheiro”, a enxadrista teria respondido a ele, com aquele ar de criança inteligente que adora ser desafiada: “Você cozinha sem olhar para o fogão? Eu jogo sem olhar o tabuleiro!”.

A melhor de todas

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Quando se diz que ela é a melhor jogadora de xadrez de todos os tempos, não é possível duvidar disso. Ninguém foi tão longe, ninguém foi tão assombrosamente capaz entre as mulheres. O GM Robert Byrne escreveu, em agosto de 1997, em sua coluna no New York Times, o jornal mais famoso dos Estados Unidos: “há muito tempo existe um debate animado sobre quem é o jogador mais forte de todos. Destacam-se Fischer, Kasparov, Capablanca, Alekhine, Lasker. Pode-se ouvir muitas opiniões diferentes. Entretanto, não há nenhuma discussão quando se pergunta qual é a jogadora mais forte de todos os tempos: seu nome é Judit Polgár”. Na ocasião, Judit tinha apenas 21 anos, o que não parecia em nada exagerado por parte de Byrne, já que, nove anos antes, quando ela tinha então somente 12 anos, o ex-campeão mundial Mikhail Tahl já havia preconizado: “Essa menina tem o potencial para vencer o Campeonato Mundial entre os homens!”.

Byrne não foi o único norte-americano a surpreender-se com ela. O GM Joel Benjamin, outro renomado jogador dos EUA, comentou certa vez, após terem se enfrentado: “Ela é um tigre no tabuleiro, com um instinto absolutamente assassino. Você comete um erro mínimo e ela vai direto para cima da sua garganta”.


O estilo de jogo agressivo e a determinação insaciável da húngara sempre foram seus pontos fortes. Características aparentemente contraditórias à sua personalidade. O jornalista inglês David Norwood, por exemplo, disse uma vez que o “jeito quieto e modesto de Judit contrasta com tudo o que ela é no tabuleiro”.


Norwood, que enfrentou Judit quando ela ainda era uma criança e ele já era um enxadrista estabelecido em seu país (hoje ele possui o título de Grande Mestre), descreveu-a como “o monstro bonitinho de cabelos castanhos que me esmagou”.

Já o famoso jornalista britânico Dominic Lawson, ao ser convocado para escrever sobre aquele fenômeno do xadrez que vencia de forma espetacular jogadores homens bem mais velhos do que ela, disse que “ela tem um “olhar assassino” para seus adversários. A íris nos seus olhos são tão escuras que são quase indistinguíveis das pupilas. Aliada ao seu longo cabelo ruivo, o efeito é impressionante”.

O britânico GM Nigel Short também não poupou elogios à Judit, colocando-a no patamar dos “maiores prodígios da história do xadrez”. Para Short, os outros gênios são Paul Morphy, José Raul Capablanca e Samuel Reshevsky.

Personalidade e estilo

Sua determinação e vontade de estar à frente também são marcantes. Mesmo criança, quando um repórter lhe perguntou se ela seria campeã mundial, a menina respondeu determinada e objetiva: “Sim, vou tentar”. Então, quando questionada sobre porque jogava só contra homens em vez de competir em torneios femininos, ela falou em um tom mais áspero: “As meninas não levam o xadrez realmente a sério. Eu pratico de cinco a seis por horas por dia, mas a maioria das meninas está distraída pensando em tarefas domésticas”.

Claramente interessada no aspecto psicológico do jogo de xadrez, Judit derrota seus adversários porque adota um estilo intencionalmente prejudicial a eles. Escolhe o que lhes incomoda mais e os estuda a fundo. Não gosta, portanto, de jogar contra computadores, como disse em outra ocasião: “o xadrez é de 30 a 40% psicologia. Você não tem isso quando enfrenta um programa, não há como confundi-lo”.

Em 1991, ela venceu o Campeonato Nacional da Hungria e tornou-se a mais jovem Grande Mestre da história, aos 15 anos, superando o recorde de Bobby Fischer por um mês. Em sua vitoriosa carreira, já derrotou os campeões mundiais Anatoly Karpov (RUS), Garry Kasparov (RUS), Boris Spassky (RUS), Vasily Smyslov (RUS), Veselin Topalov (BUL), Viswanathan Anand (IND), Ruslan Ponomariov (UCR), Alexander Khalifman (RUS) e Rustam Kasimdzhanov (AZE).

Apesar de toda dedicação e esforço, para ela o xadrez é uma autêntica diversão. Em 2003, quando estava entre os 10 jogadores mais fortes do mundo, a húngara enfrentou o ex-campeão mundial Anatoly Karpov no fortíssimo Torneio Corus, em Wijk Aan Zee, na Holanda. Judit jogou uma novidade na abertura que encontrou ali mesmo no tabuleiro, sem nenhuma preparação prévia, como é comum em partidas de alto nível. O jogo durou 33 movimentos, com Karpov tendo dois peões a menos e um Rei totalmente exposto.

Na sala de imprensa, após o duelo, a enxadrista admitiu aos repórteres “ter se divertido muito durante a partida!”. Ela não só venceu a Karpov naquele torneio, como terminou a prova em um incrível segundo lugar, meio ponto atrás de Anand, o campeão, e um ponto inteiro à frente de Vladimir Kramnik, o terceiro colocado.

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Em 2001, na Copa do Mundo de Xadrez Relâmpago, ela arrancou aplausos da plateia ao bater o então mais forte jogador de xadrez da França, GM Joel Lautier, que jogava em casa e com torcida a favor. Judit obrigou-o a abandonar a partida decisiva em 12 lances, após ter capturado sua Dama em uma combinação fantástica. Ela só foi derrotada nas semifinais para o russo GM Evgeny Bareev (que havia eliminado Kasparov).

Homens x mulheres

Apesar do sucesso, nem todos são tão entusiasmados ao falar a seu respeito. O controverso e polêmico ex-campeão mundial Garry Kasparov é um dos que mantém certa inimizade contra ela. “Ela tem um talento fantástico no xadrez, sim, mas ela é, afinal, uma mulher. Tudo se resume as imperfeições da alma feminina. Nenhuma mulher pode sustentar uma prolongada batalha por muito tempo”, disse Garry sobre ela.


As polêmicas em torno de Kasparov e Judit começaram cedo. Em Linares, em 1994, ocorreu um incidente na partida entre ambos que ficou conhecido no mundo todo, inclusive fora do meio enxadrístico. Garry teria largado uma peça em uma casa e voltado a movê-la, o que é claramente contra as regras.

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Se tivesse feito o movimento como havia sido sua primeira intenção, ele provavelmente teria perdido o jogo. “Eu estava jogando contra o campeão mundial e não queria causar nenhum tipo de constrangimento no meu primeiro convite para uma competição deste nível. Também estava com medo de que, se minha reclamação fosse negada, eu seria penalizada no relógio”, explicou Judit após ser questionada por não obrigar Kasparov a realizar o movimento. Ela tinha somente 17 anos na época.

Checando os vídeos de cobertura do torneio, foi constatado que Kasparov realmente largou seu Cavalo em uma posição perdedora e, só então, resolveu pegá-lo e movê-lo novamente para outra casa. O diretor do torneio foi duramente criticado por não decretar a derrota de Kasparov, mesmo tendo visto os vídeos depois.

Judit encontrou Kasparov no saguão do hotel aquele dia, horas depois de saber da existência do vídeo que comprovava sua impressão sobre ele ter trapaceado, e perguntou-lhe desacreditada: “Como você pode fazer isso comigo?”. Ele não a respondeu, e a partir daí os dois quase nunca voltariam a se falar.


Sobre esse assunto, Kasparov chegou a declarar posteriormente que “sua consciência estava tranquila” e que ele "realmente não se recordava de haver largado a peça". James Eade, da Chess for Dummies, comentou o jogo dizendo: “Se até mesmo um campeão do mundo quebra as regras do xadrez, o que se pode esperar do resto de nós?”.

Após este incidente, a relação de ambos manteve-se em conflito. Kasparov chegou a dizer que Polgár era um “fantoche de circo” e que as mulheres deveriam cuidar de seus filhos em vez de jogar xadrez. Ele, porém, ainda teria de engolir uma derrota para ela, em uma partida de xadrez rápido. Foi em 2002, no match Rússia contra O Resto do Mundo, e o jogo foi considerado histórico porque foi a primeira vez que a número 1 do xadrez feminino derrotou o número 1 do xadrez masculino em uma competição. Mais do que isso: em qualquer outro esporte, jamais o número 1 do sexo masculino havia perdido para a número 1 do sexo feminino.

O xadrez e a família

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Para aliar sua vida profissional e pessoal, Judit Polgár já revelou em uma entrevista anterior que é necessário ser “egoísta” e que ela se sente “de férias” quando está em uma competição. “Em um torneio, você só pode pensar em si mesma. Esposo, filhos, pais... nada disso pode ocupar sua mente”, ensinou.


Embora adote essa postura, o xadrez não é a única coisa realmente importante em sua vida. Em 2002, quando o repórter que ouviu daquela menininha tímida que ela “iria tentar” vencer o Campeonato Mundial lhe fez a mesma pergunta, ela respondeu desta vez: “O xadrez é minha profissão e é claro que eu quero melhorar sempre. Eu não posso viver sem xadrez, é parte integrante de mim, eu gosto de jogar! Mas não vou desistir de tudo para me tornar campeã mundial. Eu tenho a minha vida agora”.

E é um pouco dessa vida de hoje que Judit Polgár, a maior estrela que o xadrez feminino já produziu em todos os tempos, conta-nos nesta empolgante e exclusiva entrevista à Rádio Xadrez, realizada por e-mail e respondida por ela a partir do seu iPad"

CONTINUAÇÂO E ENTREVISTA COMPLETA:AQUI





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