"Aficionados, Dirigentes em Geral do Xadrez,
Procurando evitar a emissão de qualquer juízo de valor, seguem a seguir as impressões gerais do WYCC 2011 – Campeonatos Mundiais de Xadrez da Juventude – que estão sendo realizados na cidade de Caldas Novas (GO).
Lamentavelmente nosso país ficará com uma imagem muito negativa aos olhos de todos aqueles que investiram seu tempo, esforço e dinheiro para vir participar deste que deveria ser um grandioso evento.
Logística
Mais uma vez temos eventos importantes sendo organizados em locais distantes de grandes centros, dificultando o deslocamento de todos. De Goiânia a Caldas Novas a organização providenciou alguns ônibus, mas muitos que chegaram com antecedência tiveram transportes improvisados. Várias delegações reclamaram sobre a mudança do Rio de Janeiro para Caldas Novas. Em uma diferente escala, seria o mesmo que o Brasil transferisse as Olimpíadas de 2016 para cá, sob a alegação que fosse.
Recepção
As delegações foram recebidas no aeroporto de Goiania, e eram acomodadas de forma desorganizada, sem qualquer planilha ou lista, nos ônibus e vans para as 3h de viagem até Caldas Novas. Não custaria muito contratar uma equipe profissional para esse trabalho receptivo.
Alojamento
Como era de se esperar, muitos participantes chegaram nos hotéis já de madrugada para descobrirem que a organização havia esquecido de fazer suas reservas. A delegação do Canadá pagou para ficar em determinado hotel, próximo ao local de jogos, mas não havia qualquer reserva. Desesperado, o chefe da delegação canadense tentou contatar o organizador, que não quis atendê-lo. Saiu pela cidade, já perto das 3 da manhã, com a ajuda de uma mãe de uma jogadora brasileira, em busca de local para seus atletas dormirem.
Mudanças de regras
Um dos maiores absurdos foi a alteração do número de partidas, de 11 para 9 rodadas. Até agora ninguém sabe o motivo. Mas a mudança de regras no meio dos eventos não é surpresa para nós.
Cerimônia de abertura
Não houve qualquer solenidade, nem sequer foi tocado o hino nacional, o que representa uma transgressão à lei brasileira. Não houve qualquer espetáculo de dança ou música, como é de costume em todos os Mundiais. Não havia um tradutor profissional contratado, e a função coube ao Sr. Mascarenhas, que apesar de toda a boa vontade em querer ajudar, não estava preparado para a função. Contratar um tradutor não é tão caro assim.
Delegação brasileira
A delegação brasileira, mais uma vez, chega no famoso “cada um por si”. Sem uniformes ou treinadores, os jogadores dependem de seus pais. Esses, por sua vez, se viram como podem. O chefe da delegação foi instituído na hora. Todas as delegações recebendo seus crachás e credenciais, exceto os brasileiros. Neste momento o representante de Catanduva se prontificou a ajudar e organizar tudo, cumprindo as vezes do chefe. No dia seguinte a organização, ou a CBX, tomaram o crachá dele e passaram para o atual chefe de delegação, Cláudio Tamarozi, que só ficou sabendo desta incumbência naquele exato momento.
Lamentavelmente nossos dirigentes não se deram ao trabalho de pensar em ajudar nossos atletas, técnica ou moralmente (esqueçamos o apoio financeiro), mesmo sendo sede do torneio mundial.
Representantes oficiais
Na categoria sub18 Feminino o Brasil não tem representante oficial. Isso mesmo. Apesar das constantes solicitações de confirmação das atletas que participam do torneio, a CBX entendeu que o Brasil não deveria contar com representante oficial; ou seja, a melhor rankeada no Brasileiro deveria pagar sua estadia – mais 2 mil reais para a organização.
Esta mesma jogadora havia confirmado sua chegada em Goiania, e duas horas antes de seu vôo chegar, a organização lamentou muito mas disse à mãe que não poderia buscá-la. Esta entrou em crise, e chorando disse que iria à delegacia. Neste momento intercedeu o presidente da CBX para magnanimamente garantir que colocaria um taxi à disposição da atleta. Realmente 250 reais é um investimento muito alto para os organizadores, que já haviam recebido pelo serviço.
Local de jogos
O local de jogos lembra qualquer torneio escolar que estamos acostumados a acompanhar. Nenhuma cenografia, decoração. Os pais e acompanhantes ficam esperando do lado de fora. No primeiro dia não havia cadeiras, e todos eram obrigados a sentar no chão ou ficar de pé por horas. Também não havia banheiros ou água. Reclamações generalizadas.
Agora há um banheiro à disposição. Talvez fosse melhor continuar sem.
Confusão
No início da segunda rodada, mais uma vez contrariando as informações do folder do evento, os pais foram proibidos de entrar no local de jogos para dar boa sorte aos seus rebentos, tirar as fotos, ou mesmo preencher as planilhas dos menorzinhos. Não bastasse não ter onde se sentar, ter que viajar pro outro lado do mundo, e pagar preços extorsivos, foram proibidos de acompanhar seus filhos. Aí foi um tal de empurra, chegaram a invadir o salão. Para a saúde dos árbitros e organizadores, eles felizmente se organizaram e não cometeram o mesmo erro na terceira rodada.
Outra falha
No folder do evento diz que todos os participantes teriam acesso aos parques aquáticos, mas na verdade isso só foi permitido aos que ficaram nos melhores hotéis.
Boletins
De acordo com o regulamento, os chefes de cada delegação deveriam receber boletins em CD a cada rodada.
Arbitragem
A arbitragem está a cargo da Diretoria da CBX. Um jogador brasileiro foi chamado à atenção por um dos árbitros que lhe disse que ele não devia sair de sua mesa, pois se em algum momento não houvesse ninguém no tabuleiro e alguém mexesse nas peças, ele tiraria o ponto de ambos (!!) – deve ser uma lei nova.
Hotéis
Os valores cobrados pela organização são extorsivos. Aliás, os hotéis aceitam hóspedes que não sejam dos torneios, e o valor cobrado no balcão é exatamente a metade do que os enxadristas pagam. Com bom humor é possível dar 4 estrelas, mas de fato são meros 3 estrelas. Ficou mais caro se alojar em Caldas Novas do que na Times Square em Nova Iorque.
O problema maior é a venda casada, proibida pelas leis brasileiras. E que não se justifique com regulamentos de FIDE, pois no mês que vem o Peru vai organizar o Sul Americano, e quem não quiser ficar nos hotéis oficiais pode abonar uma taxa adicional de 50 dólares, o que parece razoável.
Alimentação
A alimentação está razoável. Vai ser complicado continuar mais 4 dias com a mesma comida, mas tudo bem.
Caldas Novas
Curiosamente ninguém na cidade sabe que está tendo esse evento aqui! Nem mesmo os taxistas. No site oficial da cidade também não há qualquer menção.
Aparentemente a prefeitura da cidade não apoiou em nada na organização, pois nem mesmo há segurança ou uma ambulância em frente ao local do evento, como determina a legislação brasileira.
Divulgação e Comunicação
Não há nenhum banner com patrocinadores, ou sequer apoio da cidade ou do governo estadual. Nenhum cartaz, folder ou faixa por parte da organização. Nenhuma bandeira. Nada. Nem mesmo o torneio interno do clube é tão escondido quanto este. Não há fotógrafos contratados pela organização. Não está sendo feita qualquer filmagem. Não há telões ou LEDs para mostrar as partidas ao público que espera do lado de fora.
Nenhum repórter, de mídia televisiva ou escrita, apareceu até agora. Parece que não há o menor interesse em chamar a atenção para o evento. Não é normal.
Patrocinadores
Há um “parceiro” – Samuk. O único banner no local de jogos é desta empresa, que é a patrocinadora da Federação de Xadrez do Cazaquistão! Estranho, para dizer o mínimo.
Recibos
Evidentemente o organizador não quer emitir notas fiscais e pagar impostos. A falta de transparência é tamanha que o recibo do evento não tem assinatura ou nome de quem o emite. Comitê organizador do evento não é pessoa jurídica legalmente constituída. Não há logo, CNPJ ou endereço.
A impressão geral que se tem é de total amadorismo, falta de planejamento e descaso com os participantes.
Uma vergonha nacional.
Movimento Pro Xadrez Melhor para Brasil agradece a divulgação do presente"
FONTE:
http://xadrezopniao.blogspot.com/