Repasso uma leitura que achei interessante, espero que outros membros do fórum a apreciem também.
Até o momento apenas as 5 primeiras partes foram publicadas no site de origem.As 7 piores sabotagens do treinamento em Xadrez
Definitivamente não era a minha intenção escrever um tópico individual sobre treinamento de xadrez, mas ao responder a uma pergunta sobre como estudar aberturas do amigo @danielabrantes percebi que a resposta foi bem aceita e decidi escrever mais.
Bem, vou contar um pouco sobre mim primeiro. Eu aprendi a mover as peças com 10 anos de idade, e passei alguns anos jogando apenas para me divertir. Apenas quando completei 21 anos começei a estudar de maneira mais séria, mas cometi todas as 7 sabotagens do estudo e do treinamento por pura falta de orientação. Por vários anos meu rating permaneceu por volta de 1600 justamente porque eu estava me sabotando; eu não conseguia entender como, mesmo estudando e jogando regularmente eu ainda continuava fazendo capivaradas no tabuleiro.
Mas há alguns meses venho dedicando meu tempo a pesquisar métodos de treinamento de xadrez eficazes com o objetivo de aplica-los em mim mesmo, e encontrei muita coisa que realmente funciona e que podemos fazer para evoluir no xadrez. Durante minhas pesquisas consegui perceber que eu estava cometendo os piores crimes do treinamento enxadrístico: coisas que fazemos que, quando não nos fazem estacionar, nos empurram ainda mais longe de uma evolução regular.
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[
size=18]Sabotagem número 1: Estudar aberturas de maneira errada[/size]
Certamente essa é a principal coisa que as pessoas fazem para continuar jogando de maneira medíocre. No tópico dúvidas de treinamento, em resposta ao @danielabrantes, discorri sobre os motivos que tornam o estudo incorreto de aberturas a primeira e principal sabotagem que se pode cometer contra a própria evolução no xadrez. Você pode ler o que eu escrevi clicando neste link:
http://chesstempo.com/chess-forum/portugues/duvidas_de_treinamento-t2899.0.html;msg24590#msg24590
O que eu não escrevi naquele tópico, no entanto, é que estudar aberturas demanda um tempo considerável. Agora imagine desprender grande parte do seu tempo e de suas energias em algo completamente inútil! Desesperador, não é?
É claro que eu estou dizendo que estudar aberturas é perda de tempo apenas se você for um principiante. Caso você já domine bem a tática, a estratégia e os finais é altamente recomendável que você dedique bastante tempo no estudo dessa fase do jogo. Mas com toda essa bagagem teórica e prática você vai memorizar os lances de abertura entendendo claramente a função de cada um deles, e isso é o que realmente importa.
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abotagem número 2: Fazer do xadrez uma "colcha de retalhos"
Como se aprende Matemática? Ou Administração? Ou Informática?
Qualquer coisa que uma pessoa intentar aprender deve ser iniciada pelo básico. Aritmética no caso da Matemática, Introdução à Administração e Informática básica no caso das outras duas matérias. Agora, vamos responder a uma pergunta simples: se, em qualguer área do conhecimento humano, é preciso começar pelo básico e ir evoluindo aos poucos, passando para o estágio seguinte apenas quando dominamos o estágio anterior, por que motivos isso seria diferente com o xadrez? Começaram a entender a lógica do que estou dizendo?
Muitos principiantes -- e jogadores médios -- querem evoluir estudando o "Manual Para Jogadores Avançados", ou "Mi Sistema", "Finais de Ruben Fine" ou ainda "Meus Geniais Predecessores", ou -- o pior de todos -- "Curso Completo de Aberturas"!
Acontece que, como são livros avançados, é provável que a pesoa leia um ou dois capítulos de cada um e apenas isso. Nunca aconteceu com você? E qual o resultado? O xadrez que você aprende se torna uma "colcha de retalhos", ou seja, seu cérebro não consegue criar conexões entre os assuntos para que você possa compreender o xadrez como um todo. Já notou como isso é prejudicial? É a mesma coisa de não saber nada de aritmética e tentar estudar funções. Aí você lê o capítulo de função afim, não resolve nenhum exercício e já parte para estudar cálculo integral. Difícil, né não?
E qual o resultado de tudo isso? Derrotas e mais derrotas em torneios. O jogador não evolui e torna-se um eterno capivara. Lembro que quando começei a estudar xadrez, estudava muito a estratégia do meio-jogo, mas não dedicava nenhum minuto do dia a treinar tática. As derrotas, é claro, não eram raras. Minha desculpa: eu estava ganho, mas não vi a combinação e perdi uma peça. Isso não soa familiar?
Quero estudar xadrez corretamente: o que fazer?
Se você é como eu que estudou anos de maneira errada, eu sinto muito. Há apenas uma solução para você: voltar para o básico. E o básico do xadrez chama-se tática. Os russos já sabem disso há décadas. Não há como evoluir no xadrez sem estudar com afinco esse tema do jogo. Minhas dicas para você são:
a) Pense na tática sempre como uma cola, um preenchimento, algo que vai preencher, aderir e completar. É ela quem vai ser o elo de ligação entre as fases do jogo. Por exemplo: meu plano é conduzir um ataque da minoria para criar fraquezas na estrutura de peões do meu oponente. Depois, vou me aproveitar dessas fraquezas para lançar um ataque na ala da dama. Que elemento do xadrez vai viabilizar esse plano? Exatamente: a tática.
b) Faça uma assinatura ouro no chesstempo para treinar as bases sem rating. Eu fiz e estou adorando -- e custa apenas R$ 7,00 por mês . Em seguida, treine 30 exercícios de cada tema que encontrar. Isso mesmo: 30 de mate em um, 30 de mate em 2, e 30 de mate em 3. Depois, mais 30 de peão passado, 30 de ataque duplo e assim por diante. Quando terminar, você terá uma visão clara de cada um desses temas táticos. Acertando ou errando, o mais importante é fixar bem a ideia central de cada exercício. É isso que vai promover uma perfeita e correta evolução do seu nível de jogo. Faça isso mesmo que seu nível seja médio. Fazendo 30 posições por dia, este treino deve durar aproximadamente 1 mês.
c) Treine tática todos os dias, mesmo que você esteja treinando outros temas. Esta dica eu recebi do Rafael Leitão em sua apostila sobre tática. Lembre-se: pense na tática como uma cola!
d) Quando terminar o treino das 30 posições, faça o mesmo com 100 posições de cada tema. Se você for realmente ousado, porque não fazer 300? A prática exaustiva leva à perfeição!
e) Faça exercícios de tática até ficar cansado. Quando estiver cansado, resolva mais alguns! Acredite: a evolução é surpreendente e vale o sacrfício. Mas cuidado com o overtraining, ok? Descanse bastante entre uma seção e outra de treinamento.
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Sabotagem número 3: Jogar partidas sem anotar
Continuando nosso passeio pelas 7 grandes sabotagens no treinamento do xadrez, quero falar um pouco sobre a preguiça. Este tema será abordado mais adiante com mais detalhes, mas cabe muito bem aqui: acredito que simplesmente por preguiça as pessoas não anotem suas partidas amistosas, e só anetam as de torneio porque é obrigatório, sob pena de começar com menos tempo no relógio.
Anotar é muito chato, você pode estar pensando. Apesar de esta ser uma afirmação puramente pessoal, eu concordo: realmente é. Mas perceba que “chato” é sempre aquela coisa que a gente não está acostumado a fazer!
Outro argumento de quem não anota: como eu vou anotar jogando ping (xadrez relâmpago)? Eu respondo a este argumento com outra pergunta: como evoluir no xadrez jogando ping? É isso mesmo! Jogar ping é outra grande sabotagem com o nosso treinamento (quando não utilizado da maneira correta, é claro!), mas falarei disso depois.
Anotar partidas é muito importante por vários motivos: 1) Você terá uma database de todas as partidas que jogar. 2) Você pode visualizar depois, quando a raiva passar, os motivos da sua derrota. 3) No futuro, tornando-se mais experiente, você vai perceber qual o seu estilo de jogo, ou seja, aqueles tipos de partida que você mais gosta de jogar (se no ataque ou na defesa, por exemplo). 4) Você vai poder se gabar daquelas vitórias realmente brilhantes, que se ainda não aconteceram certamente acontecerão .
Quero estudar xadrez corretamente: o que fazer?
Em primeiro lugar, é lógico, anote suas partidas. E pare de jogar ping! Se você é principiante, esse é um péssimo caminho para sua evolução no xadrez.
Conheço vários jogadores que já ficaram no apuro do tempo em torneios por serem obrigados a consertar suas planilhas, mas isso poderia ser evitado com um treino muito simples. Minhas dicas são as seguintes:
a) Consiga um programa de xadrez forte. Eu recomendo o Fritz 5, que é gratuito e muito bom. Mas pode ser o Chessmaster, o Chessimo, o Toga, qualquer um que seja forte. Você pode pedir pra jogar contra um amigo mais experiente, mas normalmente jogadores mais fortes não querem jogar tantas partidas com alguém de nível menor...
b) Jogue 30 partidas contra o programa escolhido de 21 min nocaute, anotando os lances num papel. As 20 últimas partidas devem ser jogadas com as coordenadas do tabuleiro invisíveis. Vá nas opções do tabuleiro e desmarque a opção “mostrar coordenadas”.
c) É bem provável que você perca todas as partidas, mas lembre que o objetivo é aprender a anotar intuitivamente, atingir uma competência inconsciente ao anotar. Ao fim do treinamento, uma surpresa: anotar uma partida não vai mais atrapalhar seu jogo! Ao contrário, a prática da notação vai ser uma forte aliada na sua evolução na arte de Caíssa.
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Sabotagem número 4: Treinar sem uma meta
Olá pessoas!
Agora que já sabemos que jogar sem anotar é muito prejudicial à nossa evolução enxadrística, quero falar sobre um assunto que pouca gente se atém: não possuir uma meta enxadrística bem definida.
Responda algumas perguntas sinceras: Aonde você quer chegar? Quantos pontos de rating você pretende ter? Qual o máximo que você espera atingir como enxadrista? Você quer se tornar um mestre do jogo ou quer apenas ganhar dos seus amigos?
É impressionante como quase ninguém responde a nenhuma dessas perguntas. As pessoas simplesmente não se planejam! Como estudante de administração, sei que nada pode ser alcançado sem um bom planejamento. O planejamento, inclusive, é a base de todo processo administrativo. Sem ele, é impossível saber se as coisas estão caminhando para o rumo certo. É lógico que o planejamento não vai definir aonde você vai chegar, mas será um ponto de partida para que você possa organizar os recursos necessários para conseguir o que você quer e será um mapa orientador para que você possa dirigir as ações necessárias para atingir sua meta, sem se descuidar de controlar todo o processo.
Mas, por que ter uma meta é tão importante?
Se eu te dissesse que vou viajar, qual seria sua primeira pergunta? Exatamente: pra onde? Percebeu como uma meta é o primeiro passo para que você consiga o que quer? Como começar uma viagem se não se sabe para onde ir? É o mesmo que caminhar no escuro!
Quero estudar xadrez corretamente: o que fazer?
a) Crie uma meta clara. Não vale dizer “eu quero me tornar um jogador forte”, pois isso seria subjetivo demais. A melhor maneira de criar uma meta clara é utilizar o rating como referencial. Mas pode ser qualquer coisa bem definida, como por exemplo “quero me tornar Mestre Internacional” ou “quero ser um Mestre FIDE”.
b) Quando for criar sua meta, lembre de atirar nas estrelas! O desafio, mesmo que não seja alcançado, vai lhe render excelentes resultados. Um grande jogador brasileiro – o Gilberto Milos, eu acho – tinha a meta de estar entre os 10 melhores do planeta. Não conseguiu o feito, mas se tornou um GM bastante respeitado em todo o mundo.
(Nota - Vescovi teve essa meta)c) Depois que a sua meta for criada, escreva ela num papel e assine. De preferência guarde em um local visível. Emoldure-a! Isso vai servir pra te lembrar onde você quer chegar e te dar a motivação necessária. Além disso, escrever e assinar vai te dar uma sensação maior de responsabilidade e compromisso.
d) Sempre valorize suas pequenas conquistas. Não é porque você tem uma meta grande que vai deixar de dar valor às pequenas coisas. Quando ganhar de um jogador mais forte que você, guarde a partida como um troféu! Vibre muito quando atingir os 1600 de rating no modo blitz do chesstempo. É sério! Comemore as pequenas conquistas e a sua motivação vai aumentar consideravelmente!
e) Crie metas menores que te levem em direção à sua grande meta. Por exemplo, se você tem 1500 de rating no seu clube e quer ser um Mestre Internacional, tenha como meta um rating de 1600. Depois almeje conseguir um rating FIDE. Quando conseguir 2000 de FIDE, planeje os 2200. E parta com tudo para conseguir o título de MF. E não esqueça de dar uma festa quando conseguir sua primeira norma de MI. O segredo está na perseverança!
f) Conte a sua meta para um amigo e mostre a moldura que você fez! Se ele rir de você, isso significa que sua meta é boa e que você está no caminho certo .
Bem gente, vou me despedindo por hoje. Ainda tenho que fazer os exercícios do meu treinamento! Mas eu estou bem não estou? Essa já é a quarta sabotagem. Mais três e eu termino.
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Sabotagem número 5: Treinamento confortável
Depois de alguns dias sem escrever nada, chegou a hora de continuar listando as sabotagens que todo mundo comete (ou já cometeu) com seu próprio treinamento. Eu mesmo já cometi todas!
Bem, se estudar aberturas apenas decorando os lances, sem compreender como afetam a partida como um todo e antes de conhecer os aspectos básicos do xadrez, como tática, finais e estratégia é o melhor que alguém pode fazer para estacionar sua evolução, ser adepto do treinamento confortável fica certamente em segundo lugar no ranking.
Se você parar pra pensar um pouco, vai constatar um fato muito óbvio e simples: o conforto é algo muito bom, mas quando estamos falando das coisas que realmente nos fazem crescer, ele é o grande vilão da história. De maneira nenhuma estou querendo ser polêmico; vou me explicar melhor com alguns exemplos cotidianos.
Quando queremos entrar na universidade, deixamos o conforto de lado para encarar o vestibular. É muito mais confortável ir à praia nos fins de semana. Economizar uma grana pra comprar um carro também entra na lista das coisas difíceis de fazer. Quer sair com aquela mulher que realmente vale a pena? Não tem jeito. Tem que encarar o frio na barriga, o desconforto, fazer coisas que não estamos acostumados a fazer. Ou seja: se queremos crescer em qualquer área da vida ou conquistar algo importante temos que sair da nossa zona de conforto.
Imagine que a sua zona de conforto é tudo aquilo que você está acostumado a fazer. Sair desta zona é extremamente difícil e complicado, como acordar uma hora mais cedo todos os dias, por exemplo. Mas o que acontece quando você insiste e sai dela assim mesmo? As coisas novas, desafiadoras e desconfortáveis passarão, com o tempo, a ser comuns e confortáveis. E o que acontece com a sua zona de conforto? Isso mesmo: ela aumenta! E quanto mais aumenta sua zona de conforto, mais as tarefas que antes eram dificílimas vão se tornando simples e cotidianas!
O conceito de zona de conforto é muito importante para qualquer área da vida, principalmente a administração, e me deparei com o termo pela primeira vez ao ler "Transformando Suor em Ouro", do Bernardinho. É um ótimo livro também para enxadristas, e vai muito bem recomendado!
Assim, esse conceito torna-se muito importante para uma evolução consistente no xadrez. Ser adepto do treinamento confortável é muito prejudicial porque você acaba fazendo sempre as mesmas coisas, sempre do mesmo jeito! Não há como esperar um resultado diferente da estagnação. Certa vez, Albert Einstein disse algo que ilustra muito bem o que estou dizendo:
“Fazendo a mesma coisa dia após dia, não há de se esperar resultados diferentes”. E ainda: “Loucura é querer resultados diferentes fazendo tudo exatamente igual”!
E o que é confortável no xadrez que deve ser evitado?
a) Jogar ping sem objetivo. Jogar partidas relâmpago só é um treinamento eficaz quando é usado como treino de concentração, e só se consegue isso jogando contra aquele cara que é mais forte que você. Ficar horas na internet jogando ping apenas pra passar o tempo no seu site favorito não vai fazer seu xadrez melhorar, não mesmo!
b) Jogar contra oponentes mais fracos ou do mesmo nível. Isso mesmo: se quer realmente evoluir, tem que jogar contra gente mais forte que você! Isso vai lhe render muitas derrotas, mas o aprendizado será valioso. Como disse Capablanca:
“Tive muitas vitórias, mas em nenhuma delas aprendi tanto quanto na maioria de minhas derrotas”. Pense nisso.
c) Estudar suas vitórias. É muito bom passar algum tempo analisando sua vitória com um amigo, mas o que vai fazer você aprender de verdade é a análise minuciosa de suas derrotas. Ame-as! Esquadrinhe-as! Procure entender todos os detalhes; repasse-a várias vezes até entender o que realmente aconteceu. Você vai se surpreender quando descobrir que a maioria delas tem um padrão comum, ou seja, você perde a maioria de suas partidas por causa de uma única deficiência comum. Concentre-se em sanar essa deficiência e melhore seu jogo!
Bem, essas três coisas são as mais comuns que as pessoas fazem para se manterem em suas zonas de conforto. Mas zona de conforto, creio que você já percebeu, é um conceito bem individual. Portanto, observe criteriosamente suas atividades diárias e procure sair da sua. Como já foi dito aqui no fórum, o autoconhecimento é uma das bases para o sucesso.
Termino com uma frase do Dadai Lama, para meditação. Creio que combina com o tema.
"Desenvolver força, coragem e paz interior demanda tempo. Não espere resultados rápidos e imediatos, sob o pretexto de que decidiu mudar. Cada ação que você executa permite que essa decisão se torne efetiva dentro de seu coração."
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Fonte:
maykellking em http://chesstempo.com/chess-forum/portugues/as_7_piores_sabotagens_do_treinamento_em_xadrez-t3032.0.html