Eder Appel
Idade : 37 Posts : 420 Agradecido : 35 Cadastrado : 03/08/2011
| | Entrevista com GM Viktor Moskalenko | |
Entrevista com Viktor Moskalenko Viktor Moskalenko
Viktor Moskalenko é um Grande Mestre de Xadrez desde 1992, mundialmente conhecido por já ter sido o “segundo” durante anos de Ivanchuk, possuir algumas vitórias memoráveis contra jogadores como Morozevich, Sveshnikov e Bronstein, ser campeão Ucraniano em 1987 com 27 anos e Catalão nos anos de 2001, 2005 e 2007. Hoje, Moskalenko vive na Espanha com sua esposa Tatiana Yastrebova e sua filha Mila Moskalenko. Além de sua carreira de sucesso, escreveu diversos livros reconhecidos internacionalmente, como “The Fabulous Budapest Gambit” (O Fabuloso Gambito Budapeste), “The Flexible French” (A flexível francesa), “Revolutionize your Chess” (Revolucione seu xadrez) e “The Wonderful Winawer” (A maravilhosa Winawer). Mais detalhes sobre seus livros AQUI.
Entretanto, a maior parte dos enxadristas brasileiros, acabaram de conhecer o GMI por participar da equipe brasileira nas olimpíadas como técnico e capitão, fato que pegou desprevenido alguns torcedores. Além disso, os próprios GMs brasileiros, antes das Olimpíadas, mostraram-se curiosos quanto o trabalho que Moskalenko exerceria, já que só o conheceriam pessoalmente na Turquia. Levando em consideração toda essa mística que foi criada, nós do Tabuleiro Social, fomos atrás do GM para conhecer um pouco mais do seu trabalho e responder algumas dúvidas que todos que acompanharam as Olimpíadas tiveram. Espero que divirtam-se com a entrevista, da mesma forma como nos divertimos fazendo! Tabuleiro Social: Boa tarde Grande Mestre Viktor Moskalenko, muito obrigado por aceitar fazer essa entrevista. Viktor Moskalenko: Obrigado pelo seu interesse! Já estou em casa em Barcelona, é só enviar as perguntas que respondo quando for possível. TS: Vamos começar pelo começo, você poderia nos informar como foi o contato com o Pablyto da CBX e quais seriam os planos iniciais para o seu trabalho? VM: Como você sabe, sou enxadrista e treinador profissional, então fui convidado para Istambul por um membro da delegação brasileira (uma pessoa que conheço muito bem, entretanto não foi o Pablyto concretamente). Ele me disse que o objetivo era ajudar a equipe brasileira a melhorar o resultado anterior (16ª colocação) e então, ainda antes das Olimpíadas comecei a estudar individualmente o estilo de jogo da nossa equipe. TS: Então, foi o GM Darcy Lima que entrou em contato com o senhor? VM: Eu não posso dizer, pois foi um contato privado comigo, além de não ter recebido convite “oficial”, etc.
TS: Sem problemas! Vamos então falar sobre o torneio em si. Em sua opinião, como foi essa experiência, realizasse tudo o que planejavas? VM: De forma geral, foi ótima. Se tivéssemos vencido a última rodada contra Suécia, o resultado também teria sido ótimo, entre a nona e décima oitava colocação. Infelizmente, dois jogadores chaves da equipe, sofreram intoxicação alimental devido a comida do hotel e passaram mal durante o decisivo match. Devo dizer também que no primeiro dia em Istambul, me surpreendi quando fui denominado capitão da equipe, pois fui convidado como treinador. Mas não teve nenhum problema para mim, apenas um pequeno choque, já que seria a primeira vez como treinador nas Olimpíadas, então eu estava um pouco nervoso se poderia ajudar o time de uma maneira realmente efetiva. Mas no final, fiquei muito feliz em ser o capitão e acredito que o time também! TS: Poderias então nos explicar, a diferença de atribuições de um Treinador e um Capitão? VM: O técnico deve ajudar o time com o trabalho analítico e teórico contra o próximo oponente, além de dar alguns conselhos gerais, basicamente de sua própria experiência. Normalmente ele não sai do quarto do hotel, se dedicando integralmente a preparação presente e futura. Já o capitão é o homem oficial da delegação, deve “controlar” o time antes e depois das partidas, além de organizar diversas outras coisas, como, por exemplo, conversar com a equipe e decidir quem vai jogar a próxima rodada, passar ao árbitro a escalação oficial (normalmente à noite), chegar com o time no hall do torneio, assinar o resultado do match, trazer bebida aos jogadores, se informar sobre todas as novidades da Olimpíada, além de diversos outros pequenos e grandes problemas.
TS: Houve alguns rumores, aqui no Brasil, que alguns GMs estavam um pouco inconfortáveis por você ser o treinador. O que você pode dizer quanto a isso? VM: Eu tenho que dizer que a atmosfera entre eu e o time foi sempre excelente e bem amistosa. Todos são ótimas pessoas e isso realmente ajudou para que o meu tempo em Istambul se tornasse muito bom. TS: Você é conhecido pelos seus ótimos livros e conhecimento perfeito sobre algumas aberturas, especialmente a Defesa Francesa e a Holandesa. Entretanto, nenhum dos jogadores da equipe brasileira costumam jogar tais aberturas (com excessão de algumas partidas do Vescovi na francesa). Você acha que contribuístes o tanto quanto poderia? VM: Todas as rodadas, trabalhamos em cima da preparação de abertura. É claro que não apenas a Francesa e a Holandesa. Por exemplo, preparamos com o Gilberto Milos a defesa Pirc e ela funcionou quase perfeitamente. E Giovanni Vescovi ficou muito feliz com o meu conhecimento da Francesa para o lado das negras. TS: Falando em preparações, como era a rotina sua e dos jogadores nas Olimpíadas? VM: A principal diferença entra a minha rotina e a deles era que eu não podia jogar xadrez! O restante era o mesmo, incluindo a preparação para os jogos. Entretanto, eu também não tinha tempo de fazer ginástica, natação, etc. TS: Você teria alguma história interessante ou engraçada que aconteceu lá na Turquia? VM: Com certeza. Todos os dias, passávamos por situações inusitadas. Eu estava bem focado na equipe, deixei escapar diversos desses momentos, todavia, lembro de 3 clássicas: - Antes do dia de descanso (Festa da Bermuda das olimpíadas), eu, Vescovi e Milos fomos ao supermercado. Lá, encontramos o GM inglês Nigel Short, que estava extremamente bravo com os jogadores de xadrez das olimpíadas, pois eles compraram todos os vinhos baratos e não havia sobrado um para ele! - Em certo momento da nossa preparação, no quarto dos jogadores, entra MF Alvaro Aranha (técnico da equipe feminina), e pergunta para mim uma dica para o estudo do final de jogo para as mulheres, então eu disse: “No final de jogo de torres, é preferível ter mais torres que o seu oponente!”. - Sobre os turcos... No dia de descanso, eu, Rafael e Giovanni, fomos visitar o centro da cidade e o gran-bazar. Na volta para casa, paramos um taxi e perguntamos quanto seria para nos levar até o hotel, ele disse “40 liras”. Aceitamos a proposta, sentamos no taxi e o taxista simplesmente disparou na rua, foi EXTREMAMENTE rápido até o hotel e disse que custaria 80 liras. Perguntamos então, “mas como?”. A explicação dele foi: eu fui no dobro da velocidade...!! – arf, arf, arf.
TS: O único jogador da equipe brasileira que teve performance positiva, foi o GM Rafael Leitão, o que aconteceu com a equipe brasileira? VM: O Grande Mestre Rafael Leitão, tradicionalmente e merecidamente, é o melhor jogador do time do Brasil durante as Olimpíadas. É um jogador desejável à equipe graças as suas ótimas características pessoais. E obviamente, o nível de jogo dos outros jogadores é bem forte e sólido. Entretanto, isso não é o suficiente para um bom resultado final. O torneio olímpico “Open” é muito forte e há diversos super-times, profissionalmente muito bem preparados, além da influência que existe no emparceiramento da última rodada, etc. Olhando o resultado da última Olimpíada, eu acredito, que a preparação prévia de todos os membros do time teve papel decisivo. Sendo assim, o time nacional (e candidatos) deve ter uma ajuda especial da federação, para sua preparação durante os próximos anos, muito antes do início da Olimpíada. Eu cheguei em Istambul sem conhecer muito os jogadores, mas a minha ajuda poderia ter sido muito mais eficiente se eu (ou, de algum outro técnico profissional) fosse para o Brasil, começar o trabalho antes das Olimpíadas. De qualquer forma, todos os jogadores da equipe devem ter em mente que a preparação para a próxima Olimpíada começa agora, assim, o sucesso final estaria programado. Obs: Minhas congratulações à tabuleiro número um no feminino, Vanessa Feliciao Erbt, pela norma de WGM e sua simpatia estrondosa. TS: Muito obrigado pela entrevista GM Viktor. Desculpe-me se alguma de nossas perguntas conturbou você, entretanto, os enxadristas brasileiros tinham muitas dúvidas sobre o que realmente aconteceu na Turquia... Terias alguma mensagem final para enviar aos brasileiros que acompanharam seu trabalho? VM: Desejo aos meus novos e antigos amigos enxadristas brasileiros, homens e mulheres, uma boa sorte na próxima Olimpíada em Thompson (Noruega).
- Saludo desde Barcelona! Viktor Moskalenko
Última edição por Eder Appel em Qui 13 Set 2012, 12:44, editado 1 vez(es) (Motivo da edição : A pedidos do Presidente da CBX, Pablyto Robert, alterei uma pequena parte na introdução.) | |
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Qui 13 Set 2012, 13:08 por Eder Appel